Embora a educação para a ciência seja prevista como parte integrante do processo educacional, o Brasil tem se mostrado deficitário em suas metas educacionais em geral e na educação científica especificamente. Nessa perspectiva, ações de popularização da ciência desempenham importante papel nas instituições educacionais. Iniciativas que permitem a comunidade acompanhar o progresso científico são sempre positivas e benéficas, uma vez que levam aos cidadãos a oportunidade de se informar para poder tomar decisões esclarecidas, aprender a cuidar melhor de sua saúde, ou simplesmente matar a curiosidade e se deliciar com suas próprias descobertas.
Os avanços da ciência e da tecnologia estão cada vez mais presentes na vida das novas gerações, mas isto não significa que esteja ocorrendo a apropriação do conhecimento científico e tecnológico. Há uma verdadeira avalanche de serviços e produtos, como a telefonia celular que está presente no cotidiano da sociedade. No entanto, poucos conhecem os fenômenos e processos presentes por trás deste universo tão familiar.
É preciso perceber que a ciência está na vida. A escola tem o papel fundamental de apresentar o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo dos séculos, porém é imprescindível que estimule a busca por novos conhecimentos. Este é o caminho para a pesquisa. A observação, a indagação, a experimentação, levam à formulação de uma pergunta problema que deve ser respondida através da investigação científica.
Apenas uma pequena parcela dos jovens brasileiros segue carreira em áreas científicas e tecnológicas. Para aumentar essa porcentagem, é necessário despertar desde cedo a motivação e a criatividade nos estudantes, ao mesmo tempo direcionando-os para o uso do método científico. Atividades de popularização da ciência, como Feiras de Ciências, fazem jovens e crianças refletirem e colocarem em prática o aprendizado, essencial na formação do futuro cientista, em qualquer área do conhecimento. A concretização dessas ações depende também da motivação e formação dos próprios professores, além da conscientização de coordenadores e diretores para que trabalhem pela a inclusão destas práticas no calendário escolar. A colaboração e o apoio dos profissionais de centros de pesquisa e divulgação são fatores determinantes para o sucesso de tais empreendimentos.
É neste cenário que se inserem as ações desenvolvidas pela Feira Estadual de Ciências, Tecnologia e Artes de Sergipe (Cienart), relevando sua contribuição para a popularização da ciência em Sergipe. A Cienart foi instituída no ano de 2012 e em desenvolvimento até a presente data. O projeto recebe o financiamento do CNPq e MCTI e conta com uma equipe executora que reúne pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, que já atuam em atividades de divulgação e popularização da Ciência. A Cienart objetiva subsidiar os professores na elaboração e submissão de projetos científicos para concorrerem a editais da Fapitec (Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe) e outras agências de fomento; apoiar professores na execução dos projetos; disponibilizar bolsas de IC Jr aos alunos premiados durante a feira científica da Fapitec. Trata-se de um projeto que agrupa pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento que vem de uma trajetória de ações de divulgação e popularização da ciência no estado de Sergipe.
A Cienart tem por objetivo promover a mobilização de professores e alunos, voltada ao aprimoramento do ensino e da aprendizagem de Ciências, através de uma abordagem que explora a relação entre Arte (sensibilização), Ciência (método) e Tecnologia (aplicação). Busca proporcionar um ambiente de interação entre alunos de escolas particulares e públicas, bolsistas Pibic Jr e pesquisadores, abrindo portas para que mais estudantes se interessem pelas carreiras em ciência e tecnologia. Visa ainda:
1. Realizar Oficinas Pedagógicas na capital e no interior do estado, para preparar os professores da educação básica para a implementação do método científico entre seus alunos. Nestas oficinas, é proporcionada a realização de dinâmicas com atividades que estes professores podem reproduzir em sala de aula e que culminarão nas Feiras de Ciências;
2. Promover ampla divulgação da Cienart, através da manutenção da página na internet e perfis nas redes sociais, além de publicações nos portais das instituições envolvidas, em jornais, rádio, televisão e outdoors. Também são confeccionados cartazes e folders do evento, para distribuição nas escolas;
3. Realizar a Cienart, com abrangência estadual e espaço aberto a todas as áreas do conhecimento;
4. Premiar os estudantes com maior classificação de modo a estimular a continuidade do processo nos anos seguintes;
5. Premiar professores e escolas com melhor classificação, como forma de incentivo ao seu trabalho;
6. Estimular as equipes destacadas em nível estadual para que participem de Feiras Nacionais.
É ainda objetivo da Cienart contribuir para o incentivo dos professores e alunos, através da premiação com bolsas Pibic Jr, e para a sua consolidação como um evento periódico e regular, inserido no calendário escolar. Os trabalhos de Pibic Jr são apresentados na Cienart, o que representa um coroamento do trabalho, com a ampla divulgação de seus resultados e uma maior aproximação entre os programas e toda a comunidade escolar. Nos bolsistas destes programas, a perspectiva de apresentar o trabalho em um grande evento gera um compromisso maior com a qualidade, maior dedicação e entusiasmo com a ciência. Ao submeter um trabalho à avaliação, os alunos têm a oportunidade de ouvir comentários e questões sobre o que produziram, encontrando outras perspectivas e outros ângulos de visão. E, ao visitar outros trabalhos, eles têm a possibilidade de contato com novos objetos de conhecimento e novos parâmetros de produção.
O público-alvo da Cienart são alunos da educação básica tanto de instituições públicas como privadas. Algumas escolas particulares do estado de Sergipe têm implementado laboratórios de Ciência e Tecnologia (C&T), o que é uma iniciativa louvável e que merece ser estimulada, divulgada e replicada pelas demais instituições. Tendo em vista que as escolas particulares de Sergipe já realizam tradicionalmente feiras de ciências, as atividades que antecedem a Feira Estadual têm sido mais voltadas às escolas da rede pública. No entanto, constatamos que apenas 20% dos trabalhos apresentados foram de escolas particulares.
A possibilidade de apresentação dos melhores trabalhos em uma feira estadual certamente é um estímulo de grande peso para que as escolas se empenhem ainda mais em desenvolver práticas laboratoriais no decorrer do ano letivo, culminando nas feiras de ciências na escola e na Feira Estadual.
Adicionalmente, a incorporação da ciência nas expressões artísticas e culturais tem importância fundamental para a inclusão educacional, por atingir o público-alvo de maneira lúdica. Estas atividades fortalecem o vínculo entre C&T e a vida cotidiana, além de romper o preconceito de que a ciência é tediosa e difícil de compreender. Da mesma forma, a contextualização da Ciência nas questões ambientais e políticas, assim como nas demandas tecnológicas, coloca os jovens em um papel de questionadores e transformadores da realidade através do seu trabalho científico.
A realização da Cienart ocorreu nos anos de 2012 e 2013 no Iate Club de Aracaju. Com o aumento do número de participantes no ano de 2014 a Feira foi realizada no Centro de Convenções de Sergipe. Em 2015, a V Feira de Ciências da FAPITEC ocorreu no espaço da Vivência da UFS, onde vai ocorrer em 2016, dia 28 de outubro.
Em sua primeira edição, contou com a participação de 25 escolas da capital e do interior do estado. No ano seguinte, 41 foram as escolas que aderiram a Cienart com 90 trabalhos apresentados, chegando em 2014 com 76 escolas e 120 trabalhos apresentados. Os dados de 2015 apontam para um crescimento do número de projetos inscritos na Cienart para participarem da V Feira de Ciências da Fapitec: 167 trabalhos envolvendo alunos do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e do Ensino Profissionalizante, distribuídos espacialmente em 32 municípios sergipanos (figura 1).
Na Feira, são apresentados os projetos científicos das escolas públicas e particulares, os trabalhos dos bolsistas dos programas Pibic Jr, trabalhos de divulgação científica em andamento no estado e trabalhos dos pesquisadores das universidades e centros de pesquisa de Sergipe. Estes últimos são convertidos para uma linguagem acessível ao público que visita o evento.
As inscrições na Cienart são gratuitas, devendo ser acompanhadas de um relatório. Os trabalhos inscritos podem ser inscritos nas áreas de Ciências Exatas, Humanas ou Biológicas e suas aplicações, ou ainda ser inscritos como trabalhos artísticos abordando ciência ou tecnologia. A inscrição dos trabalhos deve ser feita pelo professor responsável pela equipe, podendo cada professor inscrever mais de um trabalho, com uma equipe formada por no máximo 10 alunos, regularmente matriculados no Ensino Médio ou Ensino Fundamental.
O julgamento dos trabalhos inscritos na Cienart e apresentados na Feira Científica da Fapitec é realizado por uma comissão formada por pesquisadores, jornalistas, artistas e especialistas de cada setor do conhecimento, especialmente convidados para este fim. Em cada categoria, são atribuídas notas ao relatório entregue no ato da inscrição, à montagem e apresentação do projeto. Cada trabalho é avaliado, de forma independente, por no mínimo 2 avaliadores, com critérios baseados na originalidade, inovação, interdisciplinaridade e contextualização, aplicação do método científico, nível de conhecimento demonstrado pelos apresentadores e potencial de uso do trabalho como ferramenta de ensino e aprendizagem. Na avaliação dos trabalhos artísticos, os critérios serão a originalidade, a qualidade artística da apresentação, a relevância do trabalho em sua relação com ciência e tecnologia.
A culminância da Feira é o momento da premiação, com homenagem a alunos, professores e escolas que realizaram os trabalhos mais bem avaliados. É também instrumento de divulgação do evento para ampliar a participação nas próximas edições. Entre os alunos de escolas públicas premiados, são oferecidas bolsas das modalidades Pibic Jr, de acordo com sua área de interesse.
A equipe da Cienart tem realizado um trabalho de convencimento das Secretarias de Educação Estadual e Municipais quanto à necessidade de incorporar feiras de ciências ao calendário escolar, preferencialmente no início do segundo semestre e antes da realização anual da SNCT. A Cienart também tem se fortalecido através de sua parceria com a Secretaria Estadual de Educação de Sergipe (SEED) e estamos trabalhando para garantir parcerias com as secretarias dos municípios de todo o estado. A SEED atua incentivando seus professores a participar das Oficinas Pedagógicas, inscrever trabalhos na Feira e fornecendo o espaço para a realização das oficinas nas sedes das Diretorias Regionais de Educação.
Todos resumos dos projetos inscritos pelos professores que foram aprovados para participar da feira são publicados no livro de resumos. E, após a realização da Feira, os autores dos trabalhos apresentados são convidados a preparar uma versão de seu texto para ser publicado na Revista Feira de Ciência & Cultura (ISSN 2177-6547). Esta revista científica tem por finalidade contribuir para as práticas de leitura e escrita em ambiente escolar, além de possibilitar o contato da comunidade com os temas de C&T.
Além disso, a Cienart tem uma página na internet (www.Cienart-se.com.br) e perfil no Facebook (http://www.facebook.com/CienartSe) onde são disponibilizadas notícias sobre o evento e atividades relacionadas. Os colaboradores deste projeto que atuam na área de jornalismo científico, juntamente com os setores de comunicação das instituições envolvidas, têm realizado ampla inserção da Cienart nos principais meios de comunicação, contribuindo para o crescimento de uma cultura científica nos veículos de comunicação locais. Notícias sobre o projeto têm sido também veiculadas nos portais das instituições envolvidas.
No tocante aos resultados e impactos da Cienart, destacamos o maior envolvimento da população nas questões ligadas à C&T, a melhoria da qualidade no ensino, através da incorporação de práticas pedagógicas inovadores e diferenciadas, com a consolidação de uma metodologia reaplicável de aprimoramento do ensino e da aprendizagem.
Além disso, a sensibilização para a valorização da realização de feiras de ciências nas escolas e a oportunidade de aproximação da sociedade com o saber científico já produzido cumpre um dos objetivos mais gerais da Cienart, que é divulgar o saber científico para a sociedade.
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de ações da Cienart tem suscitado a participação de discentes e docentes dos diferentes níveis de formação (Ensino Fundamental, Médio e Superior), em projetos de popularização da ciência, replicados na sala de aula. A Cienart oportuniza o espaço para a apresentação dos conhecimentos científicos socioculturais gerados por atividades desenvolvidas por professores e alunos das redes pública e particular de ensino.
Ao divulgar conhecimentos relacionados à ciência que envolvem o cotidiano dos alunos, procurando derrubar mitos e receios e, ao mesmo tempo, despertar um espírito científico, a Cienart fortalece a imagem das instituições parceiras como espaço de discussão e reflexão sobre a produção do saber científico, das aplicações desse saber presentes no cotidiano e das implicações sociais decorrentes de seu uso entre professores e alunos.
Zélia Soares Macedo
Eva Maria Siqueira Alves
Raquel Meister Ko. Freitag
Sônia de Souza Mendonça Menezes