SOBRE IMORTALIDADES

José Fernandes de Lima

A descoberta da limitação temporal da vida impactou definitivamente o comportamento dos seres humanos. Ao descobrir que era mortal, o homem foi estimulado a pensar sobre o tema e a procurar mecanismos para o prolongamento da sua existência. Desde então, a imortalidade têm sido uma busca constante. Vencer a morte e viver para além da finitude do seu tempo virou um objetivo.

A preocupação com a morte deu origem a pensamentos distintos que permeiam a ciência, a filosofia e a religião. Nos últimos anos, os avanços da ciência e da tecnologia têm trazido novos olhares sobre a ideia de imortalidade.

A definição do que se entende por vivo parece não estar totalmente assentada.

De acordo com os dicionários, os seres vivos são capazes de se reproduzir e de deixar descendentes. São capazes de evoluir, de responder a estímulos. Também podemos dizer que: o ser vivo se movimenta, come, fala, ouve, dá opinião, aprende. Em resumo, o ser vivo interage com a natureza e com os outros.

Dentre as propriedades citadas como características do organismo vivo, encontramos: a organização, o metabolismo, a homeostase, o crescimento, a reprodução, a reação e a evolução.

Essas características não devem ser entendidas como exigências definitivas porque há indivíduos que não ouvem, não falam, não opinam e nem por isso podem ser considerados mortos. Os muares não se reproduzem e, nem por isso, deixam de estar vivos.

A imortalidade é a propriedade de se manter vivo por tempo infinito ou muito longo. Independentemente da definição adotada, a possibilidade de ser imortal parece muito atraente. A imortalidade tem sido buscada de diferentes maneiras.

Pelo lado da saúde, verificamos que muito dinheiro tem sido investido em pesquisas com vistas ao prolongamento da vida humana. Alguns pesquisadores veem a velhice como um processo de degradação celular, uma doença que pode ser curada, de tal modo que o individuo possa viver muito mais. Ao lado do interesse de viver mais de 150 ou 200 anos, há outras formas de imortalidade muito desejadas. Um exemplo é o desejo de ser lembrado, de tornar-se nome de rua, de prédio público ou de escola.

Diante desse tipo de objetivo, verificamos que uma propriedade considerada importante para a definição da imortalidade é a capacidade de influenciar e ser influenciado.

Ao construir uma casa, o indivíduo está influenciando, está modificando o meio ambiente. Ao apresentar uma ideia, escrever um livro ou uma peça teatral, também está influenciando o meio ambiente e as pessoas que têm acesso aos referidos produtos intelectuais.

Nessas circunstâncias, uma forma de verificar se o indivíduo morreu ou está vivo é verificar se ele deixou de influenciar ou continua influenciando outras pessoas.

Adotada a definição acima, poderíamos perguntar: E, se mesmo depois de parar de respirar, de reproduzir e de crescer ele continuar influenciando? Podemos dizer que ele está vivo?

Parece uma boa questão.

Um exemplo que pode ser analisado é o do individuo que escreveu um livro.

Mesmo depois de parar de escrever, ele ainda pode influenciar as pessoas que leem o seu livro. Um indivíduo que compôs uma música ou escreveu uma peça de teatro pode continuar influenciando as pessoas por muito tempo. Se ele gravar um vídeo e disponibilizar na internet, poderá continuar ativo por mais tempo ainda. Basta ver os filmes e os programas de TV que continuam a ser exibidos como se fossem novos.

Atualmente, com o armazenamento nas nuvens e com o trânsito fácil das informações digitais, a manutenção das informações foi altamente facilitada e a preservação da memória garantida.

Mesmo que o indivíduo não tenha a intenção declarada de preservar determinadas imagens divulgadas na internet, elas serão preservadas porque sempre haverá alguém reencaminhando as mesmas.

Há quem afirme que “O print é eterno”.

Diante do potencial das tecnologias da informação, podemos afirmar que se o critério para saber se o individuo está vivo ou morto for unicamente a capacidade de influenciar pessoas, a imortalidade já estaria garantida.

Surge uma nova pergunta. Se eu vejo uma foto ou um vídeo de determinada pessoa na internet, posso afirmar que ela está viva?

A resposta inicial é não.

Para sermos mais rigorosos, temos que afirmar que tais propriedades não são suficientes para garantir a imortalidade. É necessário desenvolver um critério mais eficiente.

Para além da capacidade de influenciar, há um critério mais complexo de diferenciação entre vivo e morto. Trata-se da capacidade de ser influenciado pelas pessoas e pelo meio ambiente. O vivo é afetado pela natureza e pelo ambiente ao seu redor enquanto o morto não é afetado.

Em outras palavras, o vivo aprende e o morto não aprende, o vivo evolui e o morto não.

Diante de um indivíduo que continua a aparecer na TV ou no YouTube, você pode desconfiar da sua imortalidade, se ele não for capaz de envelhecer. Mesmo que ele continue ali aparecendo, falando e se movendo, se não é mais capaz de aprender, é porque morreu.

A utilização desse critério de distinção entre morto e vivo aumenta com o passar do tempo e com a utilização das redes sociais.

Por isso, para o leitor que pretende continuar “vivo”, recomenda-se fortemente que continue aprendendo.

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