Texto publicado pelo Prof. Paulo Martins-Filho, Epidemiologista e Chefe do Laboratório de Patologia Investigativa (UFS) em parceria com colaboradores da UFS, UFAL e UNCISAL. Fala a respeito da escassez dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com doenças inflamatórias crônicas e malária no Brasil, devido a busca desenfreada para prevenir ou tratar COVID-19.
Autores: Paulo Martins-Filho (UFS), Aline Carla Carvalho (UNCISAL), Elisama Magalhães de Melo (UFS), Mário Luis Tavares Mendes (UFS) e Victor Santos (UFAL).
Texto
Em 8 de abril de 2020, o Dr. David Juurlink forneceu uma visão geral dos potenciais danos associados ao uso de cloroquina (CQ) e hidroxicloroquina (HCQS) e sugeriu que o aumento das prescrições desses medicamentos com base na especulação para a prevenção ou tratamento do COVID-19 ameaça a disponibilidade desses medicamentos para pacientes com malária e doenças inflamatórias crônicas para as quais eles são conhecidos por serem eficazes (1). De fato, a necessidade urgente de tratamento imposta pela pandemia COVID-19 levou à difusão de desinformação sobre a eficácia e segurança dos medicamentos, o que pode ter levado as pessoas a uma \”corrida desenfreada\” para o CQ e o HCQS.
Esse cenário não é promissor em países de baixa e média renda. O Brasil tem uma das maiores estimativas de prevalência de artrite lúpus eritematosa e reumatóide sistêmica em todo o mundo e contribui para 40% dos casos de malária nas Américas. A transmissão da malária permanece endêmica na Bacia Amazônica, que responde por 99,5% da carga de malária do país (2). Preocupantemente, os casos de COVID-19 no Brasil e na Região Amazônica aumentaram consideravelmente. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou uma norma que classifica o CQ e o HCQS como medicamentos de controle especial para restringir o acesso a esses medicamentos nas farmácias e evitar a escassez. No entanto, encontramos uma demanda dramaticamente impulsionada por esses medicamentos e os estoques em várias farmácias estão esgotados. Um fenômeno semelhante também foi relatado em países africanos, onde as pessoas estão estocando CQ e HCQS e há relatos de mortes por overdose automedicada (3,4). Nesse contexto, os farmacêuticos podem desempenhar um papel importante na educação e entrega de medicamentos ao consumidor (5).
Apesar do otimismo com cq e HCQS, precisamos ser cautelosos. Como mostrado pelo Dr. Juurlink, CQ e HCQS podem predispor os pacientes a arritmias com risco de vida e são extremamente tóxicos em overdose (1). Até que CQ e HCQS tenham provado sua utilidade no ambiente clínico para pacientes com COVID-19, as palavras de Paracelsus ainda parecem significativas: sola dose facit venenum (\”a dose faz o veneno\”).
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